Paraíso
Toda terapia deveria começar pela pergunta: “Como é o seu paraíso?”.
À primeira tentativa de reclamação, o terapeuta interrompe e diz: “Meu querido, sem o paraíso não dá nem pra começar. Isso mesmo, pode ir.”.
Outro dia um paciente desavisado insistiu: “Mas Doutor (ignorava que terapeuta não era médico, coitado), minha mãe não me ama, minha namorada me traiu e meu chefe me persegue!”.
Foi transferido de clínica.
Acreditem, os tratamentos seriam muito mais simples. No caso do paciente acima, por exemplo, com relação à questão da mãe, seria fácil: “Mas meu rapaz, sua mãe não está no seu paraíso, para que se preocupar com ela?”, ou então, “Ah, você gostaria que sua mãe fosse diferente, ahã, sei, mas este é um problema dela, não seu. Próxima questão.”, e pronto, todos sãos, todos bem.
Regra número um: pessoas não mudam pessoas, vamos, aceite. Pessoas mudam coisas, mudam de lugar, mudam a si mesmas, dentro de alguns limites, claro. Eu mesma queria muito ser uma borboleta quando pequena mas não deu.
- Mas Elaine, que bobagem, eu mesma mudei muito depois daquele meu primeiro namorado, virei lésbica.
Concordo, é possível conseguirmos provocar mudanças aleatórias em outrem, mas nunca, nunca intencionais.
- Mas a minha mãe me faz sofrer tanto, especialmente quando se nega a fazer suco de melancia para mim.
É, as pessoas não estão aqui para satisfazerem os seus desejos, eu também já sofri muito com isso, mas como não gosto de sofrer passou.
O meu paraíso? Aguardem, em breve postarei, em breve.
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