"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Wednesday, August 22, 2007

Humanidade

Eu sempre achei que aos tais dos sete pecados capitais não era atribuída a importância devida. Desde que resolveram elencar algumas características inerentes ao seres humanos e condená-las começou a nossa desgraça, vejam só quanto tempo faz. Nem todos sabem que não há uma lista pronta de pecados capitais, Deus não fez ditado em bullet points, eles não estão sequer na Bíblia, são interpretações dos dez mandamentos. Pois bem, quem os interpretou incutiu lá seus próprios valores e quiçá os de toda uma época. E foi então que aqueles preocupados com seu lugar no céu passaram a dissimular o que são, para não dizer pior, passando assim a abrir mão do que se tem de melhor, a nossa própria humanidade. É uma pena ver uma pessoa com potencial para ser extremamente interessante, cheia de vida, cheia de si, tentando esconder uma nesga de raiva, ou inveja, levando para baixo do tapete junto com este seus próprios tesouros, sua audácia, sua altivez. Sejam humanos, bem humanos, quanto mais humanos puderem ser, sejam, e teremos enfim o que há de bom em cima da mesa.

Posto isto, gostaria de me deter um pouco ainda sobre a preguiça, uma de minhas obsessões. Ontem chegou ao meu conhecimento que Tomás de Aquino tem uma interpretação diferente com relação a este pecado capital. Segundo ele, a preguiça não é um pecado capital e esta é uma interpretação capitalista da coisa. Não surpreende que seja. No lugar da preguiça o que era condenado era a tristeza. Tomás de Aquino diz isso ao mesmo tempo em que coloca a reflexão de que faz parte do ser humano, na vida adulta, conviver com a tristeza de ser quem se é, pequeno diante de tudo o mais, e diante de todos os porquês sem resposta. E o quanto é superficial aquele que não conhece tal tristeza. Como fugir daquilo que é ao menos um sinal de alguma grandeza? Este é o perigo de quem vive na busca de eliminar qualidades condenáveis, perder tudo enfim.

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