"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Thursday, May 10, 2007

Sobre o Papa e outras amenidades

Pasmem, estava eu entrando em um trem do nosso saudoso metrô esta noite quando ouço um aglomerado de gente bradar animadamente: “Viva o Papa. Viva o sucessor de Pedro.” Vejam só vocês que frases mais imponentes, eu diria até poéticas para um país como o nosso. Eu me senti num filme “de época”, ou ainda, novela, só faltavam os cavalos e suas carruagens. E me diverti muito, eu estava toda cansada e sem inspiração e de repente isso, além das frases de efeito havia canções que penso eu serem religiosas. Por isso que eu gosto que exista gente bem estranha no mundo, me diverte, entretém. Pois tudo isso me pôs a pensar: “E não é que tem todo tipo de gente por ai.” E como é que esses grupos sobrevivem? Digo, estas pessoas que seguem fazendo aquilo que no geral as pessoas não consideram fazer há décadas. E a resposta é: Eles se disfarçam. Antes do Papa chegar eu não conhecia nenhuma pessoa que estivesse disposta a gritar vivas desta natureza no metrô. E quando surge o momento de eclodirem para o mundo estas pessoas se unem em grupos e se comportam de maneira constrangedora. Estratégia muito inteligente já que ninguém em sã consciência vai chegar e conversar com uma pessoa que grita temas religiosos em um transporte público. Eu já explico aonde estou querendo chegar: Essas pessoas não sobreviveriam a um só instante de conversa com um ser humano médio. Bastam duas perguntas sobre o tal fanatismo e pronto, a pessoa entraria em surto e perderia totalmente o sentido de viver. Bastava um simples: Por que você considera o Papa uma pessoa (dúvida: Papas são pessoas?) diferente de você a ponto de ser mais próxima de Deus? E ainda que você tenha argumentos bastante bons para isso, por que agir como um torcedor de futebol? Cadê a bola? São muitos os mistérios, nossa. A minha posição é muito simples, o cara é contra sexo fora do casamento. Do I need to go on here? E tem mais, tem mais, camisinha, homossexual, aborto. Bastaria dizer que está em favor da chatice e pronto, o poder de síntese é uma dádiva. Alguém me explica como é que alguém pode levar isso a sério? É muita hipocrisia, não que eu tenha nada contra a hipocrisia mas esta em especial eu considero de muito mau gosto. Eu até poderia entrar no mérito dos católicos não praticantes e certamente todos os meus amigos já me ouviram dizer que eu sou jogadora de basquete não praticante and all. Eu sou bem repetitiva às vezes, praticamente uma flor de obsessão, eu e Nelson somos assim ó. Entretanto esse assunto todo de religião já me cansou, então não digo mais nada.

Quero dizer ainda, bem assim, out of the blue, que é muito bom quando a gente escolhe alguém bem escolhidinho, e a pessoa coincide de também escolher a gente desse jeito, bem escolhidinho, e fica tudo assim bem selecionado e distinto. Tem gente que é agulha no palheiro, lembrando que agulha é uma coisa mui extraordinária quando tudo o que se vê é palha.

E eu me esqueci do assunto com o qual eu gostaria de terminar este meu discurso, ah sim, me lembrei, o uso de palavras de língua inglesa no meio do texto escrito ou falado predominantemente na língua portuguesa. Eu gosto de introduzir os tópicos assim, sem dar indícios da minha opinião, para que dê tempo do leitor pensar na sua própria e então se deparar com outra, com sorte diversa. Mas voltemos, eu considero que este tipo de prática, ainda que tenha ares de arrogante, é a otimização da comunicação. Todos sabemos que as línguas não são exatamente traduzíveis, cada palavra tem seu universo de significado e vai adquirindo um contexto todo seu, o ideal seria que pudéssemos lançar mão de todas as línguas para sempre dizer exatamente o que queremos. Enquanto isso não for possível, que seja o inglês. E chamar de arrogante quem faz uso disso é despeito. Arrogância e despeito são coisas recreativas, se eu escrevesse um livro certamente criaria uma personagem bem arrogante e despeitada. Mas essa coisa de chamar de arrogante quem demonstra conhecimento só porque vivemos num país de ignorantes é uma ignorância ainda maior. Vamos todos desprezar a concordância então, vamos desconsiderar a ortografia, afinal de contas é muito feio declarar conhecimento da língua com tantos analfabetos ao redor. Ahã. O que mais me diverte é notar que estas pessoas de coração bão nem notam a soberba que exalam ao defender os “fracos e oprimidos” se considerando muito superiores que o resto da humanidade. Assim é.

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