Teoria das interferências
Eu já falei sobre a minha teoria das interferências aqui? É comum a idéia de que as pessoas tomam decisões levando em consideração, entre outras coisas, as conseqüências de suas ações. Muitas vezes este mecanismo do raciocínio, que pode ser bem complexo e estruturado com atribuição de probabilidades e consideração de alternativas em formato de gráfico árvore, não passa da primeira etapa. Sim, conseqüências geram outras conseqüências e esta corrente não termina nunca. A gente tem a impressão, em geral, de que é possível prever o impacto das nossas ações em outrem. Pensamos inclusive ser trivial o julgamento de tais resultados. Não é. Nunca. Uma coisa boa pode ser má no momento seguinte e vice-versa. Aquele fulano que dizemos ser sábio por afirmar que nada sabia não estava apenas criando uma frase de efeito, é coisa mui inteligente a atribuição de dubiedade às coisas. Uma crise, por exemplo, é coisa fantástica. Quer oportunidade maior de efetivamente transformar a própria vida do que quando tudo vai mal? Abrir mão de coisas boas e que cismam em ficar ali, do nosso lado, é coisa muito pior. Uma falta de amor, uma rejeição, desprezo coletivo, e pronto, estamos livres. Só se pode ser realmente livre sozinho. Não surpreende que os adolescentes mais desajustados se dêem melhor na vida adulta, tiveram chance de construir uma estrutura interior mais rica. Aos mais populares restam os destinos mais patéticos, assim é.
Mas divago, vamos à teoria. Uma vez que não é possível determinar com nenhum grau de certeza a interferência que nossos atos terão na vida alheia e no continuar das coisas, muito menos julgar se tal impacto vem a ser bom ou ruim, e espero ter feito este ponto claro até agora, decidir o que fazer com base nisto é tão eficiente quanto jogar moedas para cima ao optar por cara ou coroa. De fato, a eliminação de qualquer mecanismo de avaliação de interferências na nossa tomada de decisão é ideal. E por favor, não venham argumentar dizendo que então não devemos usar cintos de segurança nem trancar a porta de casa. Eu não vou nem perder o meu tempo explicando que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa com extrapolação tão estúpida. O que eu estou dizendo é que, ao fazer aquilo que acreditamos que devemos fazer, não por causa de ninguém nem de nada, mas por nós mesmos, porque aquela atitude reflete quem somos, o que pensamos, como nos sentimos, porque é genuíno e por isso honesto, estamos fazendo o melhor que pode ser feito. Sendo assim, temos o melhor resultado possível, primeiro para nós mesmos, e logo para todos os demais. Só podemos fazer bem a quem quer que seja se fizermos a nós mesmos. Ponto. Qualquer outro tipo de bondade é totalmente dispensável, obrigada.
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