Defesa, Jesus e afins.
Esse vai ser mais um daqueles posts de idéias embaraçadas nos fios de cabelo que saem em forma de transbordamento. Ninguém transborda sem intensidade, já aviso. Há muito venho querendo falar sobre defesa. Falar mal, é claro. Eu desconfio de tudo o que é muito defendido. Autodefesa ainda vá lá, tem um ar de honestidade bonito, de confissão. Não há quem critique a força que nos leva a preservar cegamente nossas próprias vidas. Ainda assim prefiro os que não se defendem, corro o risco de parecer ridícula mas não posso negar que vem a minha cabeça a história de Jesus, não que eu seja católica ou o considere um Deus, mas ainda assim acho bonita a idéia toda de compaixão. Seja como for, acho digníssimo optar por não se defender. Agora não há nada mais abjeto do que a defesa alheia. Há quem faça isso profissionalmente e daí, vá lá. Mas sair por ai em defesa de outrem, gratuitamente, especialmente quando esta defesa tem um fundo afetivo, me provoca reviravoltas no estômago. E eu não acho nem que eu precisaria me prolongar na explicação de motivos, mas explico, explico.
Para começar, imaginar que o outro precise de defesa já seria, no mínimo, pretensioso. Eu não critico a pretensão em quem tenha motivos para tê-la, mas lembre-se, nunca minta para melhor, não é de bom tom. Em seguida, vem a paixão, quem entra em defesa do outro em geral está tomado (muitas vezes de forma irascível) pela idéia de que um outro ser humano possa ter ofendido e até mesmo ultrajado alguém por quem se tem amor. É lindo, é lindo. Entretanto, vejam como a defesa se afasta do objeto a ser defendido, determinada idéia, imagino eu. Não há imparcialidade, não que ela exista em qualquer parte, não existe, mas nestes casos a parcialidade é grave. Além disso, a defesa só é justificada se ela não ultrapassa a agressividade da ofensa sofrida. Quem costuma se defender por ai deveria se lembrar desta regra. Se a sua defesa causou maior estrago do que a ofensa inicial, você não apenas se defendeu como iniciou outra contenda. Não é difícil perceber que este ciclo de atitudes supostamente “olho-por-olho, dente-por-dente” é responsável por grande parte das tragédias do mundo.
O caso é que é muito difícil julgar qual é a medida certa de uma defesa, e nos desapegar de nós mesmos a ponto de fazê-lo sem paixão. Por isso eu digo, não o façam. Eu ia dizer que Jesus está do nosso lado, mas tenho medo de declarações que possam ser encontradas em buscas pela Internet atraindo milhares de evangélicos, eu tenho medo dos evangélicos, é sério, com pesadelos e tudo o mais. Então eu vou dizer apenas que os ignorantes não sabem o que dizem, mas só os idiotas pensam que sabem. Para terminar eu gostaria de falar também sobre agressividade versus honestidade, acho que cabe. Para mim não há agressividade maior do que uma cara sorridente construída sobre uma montanha de mágoas. Tem muita gente por ai que acredita ser bom ator só porque consegue enganar a si mesmo quando convém. É claro que eu não vou sair por ai ofendendo pessoas, eu acredito em gentileza. Mas que fique claro que optar pela gentileza inclui ter a coragem para dizer inclusive que não gostou de alguma coisa, claro, num tom de voz agradável e por favor, sem afetações.
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