"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Sunday, July 30, 2006

Desvio de Entretenimento

Sabe aquele tipo de história que a maioria das pessoas adora? Pois é, eu acho chato. Tenho um desvio de entretenimento. Basta que eu identifique o mais leve traço convencional na trama e pronto, eu durmo. Não que eu seja assim, tão interessante. Tá, eu sou assim bem interessante, mas o assunto era outro. É que não existe, o convencional. Vocês estão familiarizados com alguns conceitos básicos da Estatística? Não? Hei, não se assustem, dêem uma chance a si mesmos, pode ser legal! Lá vai uma aula grátis. Sabe aquilo que todos chamam de normal? Então, em estatística tem um padrão que chamamos de normal, só que pasmem: sabe qual é a chance de ocorrer exatamente a média? Zero! Bom, como eu sou legal vou admitir que estou sendo panfletária e manipulando as informações para provar a minha teoria, porque a probabilidade é zero de qualquer valor exato ocorrer, por isso a gente usa intervalos nestes casos. Entretanto, o fato é que eu não acredito na existência do normal.

Agora, sigam meu raciocínio. Não é porque alguma coisa não possa existir de fato que ela não me interesse, muito pelo contrário, amo coisas que não existem, coisas que não existem rules! Muito bem, então qual é o problema do convencional? Coisas que não existem, mas que todo mundo pensa que existe, em geral, são bem chatas. E este é um exemplo bem típico: histórias convencionais, de pessoas convencionais, com finais emocionantemente convencionais. Não dá. E não é apenas porque não existe, ou porque é falso, mas porque é burro, superficial, achatado. Se você realmente quer me entreter, então tente novamente. Coloque alguma coisa mais humana ali, um outro tempero de realidade aqui, crie caos, depois conte com a sorte, seja aleatório, fantástico, surpreenda. Se for pra mentir, minta para mais, para melhorar, e não para tirar todo o brilho da coisa, ora, por favor.

Assim é com a história da vida das pessoas, já repararam? História da vida contada então, assim, por quem viveu, parece curriculum vitae decorado, com perguntas estúpidas de “qual é o seu objetivo” e tudo o mais. Justificativas, certificados, cerimônias, todo um cronograma seguido à risca. “E o filho, quando vem?” Máquinas de eventos, primeiro vai para a escola, depois trabalha, namora, casa (qual é a ordem disso tudo mesmo, me esqueci), daí tem os filhos e mais tudo aquilo que essas pessoas acham que tem que cumprir na vida. Chato, chato, chato. E se alguém contasse para essas pessoas que sim, elas têm uma chance, podem ser interessantérrimas, basta contarem aqueles segredos vergonhosos que escondem debaixo da cama, ou então se permitirem ser o que se é, sem mais nem menos, já seria um belo começo. Mas pensando bem, eu já tenho tanto trabalho em me dedicar à dúzia de pessoas interessantes que encontrei na vida, se de repente todos tomassem consciência disso não sobraria tempo sequer para dormir. Ainda bem que a audiência deste blog é, hummm, seleta. Não divulguem, não divulguem.