"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Wednesday, June 06, 2007

A tristeza

E daí que tem aquela frase, que diz assim: “as ilusões a abandonaram”, e que eu acho mui tocante. Porque ilusão abandona mesmo, tudo o que é bom e vai embora abandona, o que é ruim não, só desaparece, e vai tarde. E ilusão é coisa boa. Tudo bem, todos sabem que eu não sou lá super apegada à realidade, e não é que eu não a perceba porque percebo, tanto. Tenho talento para isso. Mas desprezo porque acho chato, ou melhor, desinteressante in general. Já as ilusões, ah as ilusões, são brilhantes, será que por serem minhas? Não sei, não sei. Sei que são frágeis também, e poucas palavras às espantam como quem espanta o sono com um alarme ou um sorriso bem bonito. E que pena que dá toda vez que isso acontece, as ilusões não são energia renovável, elas acabam um dia, é o que dizem. Tudo isso só porque eu queria falar o que mesmo? Ah, sim. Que a tristeza é melhor que a alegria. Explico. Quando se está alegre é um trabalho árduo se segurar para não sair por ai dando pinta, irritando toda a gente. E toda a gente nem é o pior. Nós mesmos nos frustramos por não conseguirmos expressar toda essa euforia que vai por dentro, tudo fica pouco. Agora, quando estamos tristes nos acomodamos. A tristeza é edredom em dia chuvoso, conforta. E quão íntimos não somos da tristeza, ãh? Logo ela, tão injustiçada e perseguida. E qual não é a nossa alegria quando a reencontramos. Alegria bem discreta, alegria escondidinha, como tudo o que é bom de verdade.