"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Tuesday, May 27, 2008

A ditadura dos estagiários

O lugar onde eu trabalho vive a ditadura dos estagiários. Com medo eu tento me adequar, amenizar minha voz, caprichar nas explicações, perder o tempo que for preciso para que eles se sintam bem confortáveis com a tarefa que receberem e acima de tudo, se for preciso, eu faço o trabalho deles. E não se esqueça do sorriso nos lábios. Os elogios, não se esqueça dos elogios. Desde que foi adotada aqui a extraordinária política de avaliação 360 graus, aquela em que todas as pessoas ao seu redor (não fisicamente mas hierarquicamente) podem te avaliar, os estagiários venceram. O caso é que nós temos muitos estagiários, e nos projetos trabalhamos com poucos analistas (ou coisa que o valha), menos ainda coordenadores, diretores e assim por diante. Anualmente nos avaliam aqueles que trabalharam com a gente no período, ou seja, todos os estagiários, poucos analistas e quase nenhum diretor. Detalhe, cada avaliação tem o mesmo peso, isso, vale a mesma coisa, e ainda, essa avaliação aí ajuda a definir quanta grana vai para o seu bolso. Já imaginou? Sim, somos reféns. Os estagiários aqui são tratados a pão-de-ló. O que? Me preocupar com o resultado do meu trabalho? Ou então com o coitado do cliente que paga um dinheirão para ter meus serviços. Nãh. Eu me preocupo com os estagiários. Passo horas avaliando as brincadeiras adequadas para amolecer o clima logo depois de solicitar uma tarefa. Tem que ser engraçada, caso contrário não vão gostar de mim. Não pode ser ofensiva, imagina se todos eles se virassem contra mim? É um ano inteiro de trabalho perdido. Na maioria das vezes eu evito usar os serviços dos estagiários, a não ser que seja alguma coisa bem rápida e fácil, senão eu prefiro ficar até tarde, vir no final de semana, o que custa? São marajás. Ah, quem me dera o meu estágio tivesse sido assim. Só me resta temer o futuro, o dia em que eles vão dominar o mundo.

Monday, May 26, 2008

Ah, os católicos...

Finalmente eu entendi como é que num país tão, digamos assim, moralmente liberal, o catolicismo lidera entre as demais religiões. O católico não conhece a própria religião. E desta vez não é preciosismo não, não é que ele não conheça tal passagem da bíblia, ou então tenha dúvidas sobre determinado dogma, os católicos não sabem que Jesus é Deus. Eu não estou brincando. Faça uma pesquisa você mesmo e divirta-se. Claro que grande parte dos católicos que você encontrar não serão assim, católicos católicos, eles se denominam católicos não praticantes, sabe o que é? Nem eu. Religião é uma prática. Gosto de responder a isso dizendo que eu sou jogadora de basquete não praticante, às vezes de pólo. Mas imagino que esta expressão deva se referir aos católicos que conhecem toda a prática religiosa à qual não aderem, mas preferem ir para o inferno logo de uma vez quando morrerem. Aceito, cada um com seu cada um. Não surpreende que os não católicos conheçam tão melhor a religião católica dos que os que se dizem seus praticantes, ou melhor, não praticantes. Ninguém que conheça direitinho o que se passa por lá vai aderir a isso, e ainda compactuar com todas as mortes, injustiças, preconceitos, tudo em nome do Amor. Olha, eu creio em Deus, e até acho que Jesus era um cara bem legal. Mas faça um favor, a próxima vez que for dizer por ai que acredita em alguma coisa, dá uma olhadinha só pra garantir que você está acreditando na coisa certa. Tipo assim.

Friday, May 23, 2008

Culpa

A culpa alheia que graças a Deus, neste caso literalmente, persiste no inconsciente coletivo, é um mecanismo muito mais interessante do que imaginam, e deve ser aproveitada sempre, em interesse próprio, é claro. Uma pessoa com culpa é deliciosa, capaz das maiores gentilezas, favores, ela se dedica em fazer o outro feliz e assim se faz mais feliz ainda. Eu adoro gente com culpa, é o único resquício da igreja católica que me serve. Agora, se a pessoa está lá, precisando de alívio e com isso pronta a se dedicar a você, por que negar? E tem mais, gente com culpa precisa ser usada e abusada, é um favor que se faz à pessoa, quem sabe assim ela não aprenda alguma coisa neste mundo e passe a encarar as coisas com mais, sei lá, leveza, com algum eufemismo. E depois, vamos admitir, esta é a parte boa de alguma sacanagem que rolou. O namorado saiu com outra (é hipotético viu plínio, h-i-p-o-t-é-t-i-c-o), mas saiu, pronto, todos os seus sonhos serão realizados no mesmo final de semana que será dos mais felizes da sua vida. Aproveite oras, se for pra chutar chuta depois. Se bem que na maioria das vezes a culpa salva relações, já vi muito isso acontecer, nada como o fim-de-semana-da-culpa para que a gente fique disposta a perdoar os mais diversos deslizes. Tem gente que prefere alimentar o círculo vicioso e ao invés de aproveitar a bonança se sente culpado pela culpa alheia, gente assim sente culpa por tudo, se culpa até pela fome na África, se você for uma dessas pessoas me liga já.