"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Saturday, April 28, 2007

Nostalgia do que nunca foi

Tem pessoas que cruzam o caminho da gente e que, de tão apaixonantes, provocam uma nostalgia delicada toda vez que reaparecem. Uma nostalgia do que nunca foi. E então dá uma pena, um pesar, daqueles sentidos quando o filme acaba e a mocinha não ficou com o galã, porque morreu ou coisa que o valha. Uma história que de tão bonita teria a obrigação de acontecer, mas nunca acontece. Um capricho do destino e seus tortuosos caminhos de desencontros. E então, para amenizar a dorzinha da saudade do que nunca existiu, vivo e revivo tudo na minha imaginação, com direito a PhotoShop e outros extras. E daí, sem querer, aparece aquele sorriso no rosto de quem vive uma bela história de amor. Que nunca aconteceu, e nem vai, nem vai.

Wednesday, April 25, 2007

A vida como ela é, para mim.

Na verdade a vida é uma brincadeira que acontece assim: assistimos a tudo o que toma lugar ao nosso redor, e decidimos andar para mudar de cena ou ficar parado e apenas deixar seguir o que já está diante de nossos olhos, enquanto isso, a qualquer momento, podemos dizer alguma coisa, ou ficar calados. Há também coisas que podemos fazer, estas consistem em pegar coisas que já existem, seja no mundo, seja dentro de nossas cabeças, e então organizá-las da maneira que bem entendermos. É mais ou menos o que fazemos com as palavras quando falamos no decorrer do que se passa. Diante do que decidimos dizer ou deixar calado, e diante da maneira como colocamos junto o que já havia, há quem nos dê coisas, mas há a chance de não nos darem nada, há ainda quem nos tire o que já haviam dado. Tudo o que existe pode ser dado e portanto recebido e tirado, inclusive aquilo que existe só dentro da gente. E então partimos para a próxima rodada toda vez que acordamos. E é assim que é a vida para mim.

Sunday, April 22, 2007

Tarantino, Seinfeld e ex-amigo.

Eu estava pronta para escrever sobre a amizade quando ao invés disso fui assistir O Albergue, só porque é Tarantino. Agora é isso, vou ter que comentar o filme antes de qualquer coisa. Claro que eu esperava sangue e similares hilaridades, entretanto a maneira como o resto do mundo (leia-se: mundo menos estados unidos) é tratado é tão caricata que ainda que este tenha sido um recurso proposital do seu autor e diretor, não gostei. Tudo bem insistir em colocar o americano idiota que trata o mundo como um puteiro ser enganado e acabar salvando o mundo, só faça isso longe do meu DVD, por gentileza.

Pronto, podemos seguir em frente, ufa. E eu ai dizendo... ah, sim, a amizade. O que é a amizade senão uma relação entre duas pessoas que se querem bem? Há beleza maior? Pois bem, exatamente por isso é esperado que um amigo minta. Inimigos não, estes estão prontos para dizer a verdade nua e crua, e justo aquela verdade que machuca mais e que se fosse esquecida não faria mal a ninguém. Alguns dirão que existem verdades que fazem bem à pessoa num segundo momento, depois do choque, da dor. Eu tenho as minhas dúvidas, mas digamos que sim, que se o seu amigo insiste na carreira de cantor depois da sua desafinação ter sobrevivido a cinco anos de aulas ininterruptas, talvez caiba a você ser o salvador da pátria e avisá-lo do desastre, com o constrangimento de quem alerta alguém sobre um pedaço de alface no dente. Ainda assim, tanta gente é feliz e faz rios de dinheiro sendo desafinado, pense bem, pense bem. A mentira é muito injustiçada. O que deve prevalecer entre amigos é o bem querer, mútuo. É nítido, qualquer um percebe em um discurso qualquer quando o outro teve a intenção de machucar, ou então quando houve falta de compromisso com os seus sentimentos na confidência de alguma informação que caso fosse omitida, nada alteraria no prosseguimento dos fatos. Aos amigos conferimos o poder de nos fazer mal, esta é a grande prova de amizade. Alguns são fiéis e jamais fazem uso de tal poder, ainda que estejam em um estado de espírito muito deteriorado, e então a amizade multiplica-se e prospera. Entretanto, alguns se distraem e usam mal as palavras, e é por isso que eu acredito em ex-amigo. Alguns esquecem que tal poder dedicado ao amigo pode ser confiscado em nome de nossa própria sobrevivência, já diria Jerry Seinfeld, um sábio. Basta que em uma noite de lua cheia, em que não esteja chovendo, você vá ao mar e assim que... tá, mentira, é só decidir assim e pronto. Ai, viver é fácil né? Que coisa.

Saturday, April 21, 2007

O tal do segredo

Eu não gosto de falar mal sobre o que todo mundo fala, ou sobre o que é alvo fácil, simplesmente porque não tem graça. Criticar "O Segredo" é no mínimo desnecessário. É claro que a coisa toda tem um formato barato, coisa de americano bobo que gosta de ganhar dinheiro com auto-ajuda. Entretanto (eu gosto de usar entretanto porque como a palavra é maior do que as usuais mas e porém a pausa quando se lê também fica mais estendida, e uma boa pausa é tudo numa contraposição de idéias), o leitor atento já deve ter percebido toda a responsabilidade que eu atribuo às pessoas sobre as suas próprias vidas. A força do pensamento é poderosa viu, vai por mim, agora, se você quiser continuar fazendo a vítima eu não vou perturbar, prometo.

A Ignorância Perdeu a Humildade

O que me transtorna não é a ignorância, a ignorância humilde é até muito tocante. O triste é notar que a idiotice no Brasil tem se tornado cada vez mais altiva. Eu acho possível que algum desinformado não consiga entender que o crescimento do PIB de um país é essencial para a vida de todos melhorar. Sim, meu bem, de todos. Eu até tenho um esquema bem didático e conciso para quem já se perdeu: imagine que você faz parte de uma família formada por duas pessoas, vamos chamar esta família de Brasil, digamos que a pessoa A ganhe uma renda 10 vezes maior que a pessoa B. A soma da renda dessas duas pessoas chama PIB. Se a gente aumentar o PIB tanto a pessoa A quanto a pessoa B se beneficiam e passam a ganhar mais, caso a desigualdade entre as rendas não se altere. Mas deixemos os conceitos econômicos de lado, há quem não acredite em PIB, há quem não acredite. O problema do Brasil é que as pessoas não querem pensar em PIB, as pessoas querem ser boas. Somos um país de missionários, todos loucos para distribuir sopa embaixo do viaduto. E isto é o mais longe que a nossa imaginação consegue chegar em termos de contribuição social. Se não dá sopa, não faz nada e é uma vergonha nacional. E não pense que eu estou me referindo ao povo não, estou falando de pessoas que tiveram acesso ao mais alto nível de educação do país, ou ainda, que são a educação, dão aula, vejam só vocês, em universidades. Falta humildade aos idiotas brasileiros, que os façam trabalhar com as mãos ou fazerem voto de silêncio. Entretanto, neste lugar, ninguém se interessa pelo resultado, quiçá um resultado assim, geral. Isto seria uma heresia, um pensamento tacanho frente ao guri de Piraporinha que ainda morre de berne. Vamos salvar as crianças do berne no Brasil, e vamos todos fazer isso pessoalmente, uma bobagem falar de economia enquanto tanta gente passa fome no Nordeste. E assim caminhamos, preocupados em confortar a nossa própria consciência, sentados em botecos finos enchendo a pança de cerveja Premium, arrotando soberba e nos sentindo mui cidadãos, cidadãos de coração bão.