"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Friday, December 29, 2006

Ensaio sobre o Arrependimento

Arrepender-se é enganar a si mesmo. Você entendeu, eu vou falar mal do arrependimento, mas a crítica desta vez não seguirá nenhum dos motivos que você conhece e que provavelmente tenha escutado exaustivamente por toda a vida, portanto não se vá tão prontamente, por favor me conceda a atenção por mais alguns parágrafos.

Por que alguém se arrepende?

Esmalte, por exemplo, pode ser um objeto de arrependimento.

- Droga, eu não devia ter pintado a unha de vermelho justo nessa semana que tem almoço na cada dos pais do Rogério.

Veja bem, a moça acima se toma por alguém racional o suficiente para não ceder à cor quente em função do bom convívio social. O caso é que ela não é, racional o suficiente. Outra pessoa poderia ter ido ao mesmo cabeleireiro e pintado as unhas de cor insípida. Mas esta não, a nossa personagem escolheu o vermelho, ela estava ali, numa situação real, com acesso a toda informação existente, e no momento crucial da pergunta:

- O que vai ser hoje, Dona?

Ela respondeu.

- Vermelho, por favor. Aquele ali do cantinho.

Simples assim? Simples assim! Está arrependido por ter escolhido uma profissão pelos motivos errados? Talvez você não seja tão esperto assim como imagina. Acha que casou com um homem desinteressante? Então comece a se perguntar porque foi que você demorou tanto tempo para notar este detalhe.

- Mas Elaine, todos nós, seres humanos, cometemos erros na vida.

Sim, e ainda bem, já imaginou a chatice do contrário? Nós agimos de acordo com o que somos, pensamos, sentimos, acreditamos, sabemos, as nossas ações são o melhor reflexo de nós mesmos. Daí, espera-se que a medida que o tempo passa todos os acertos, erros, e segundos a mais de vida nos modifiquem. Agora, me conta onde entra o arrependimento nesta história? Se você fez alguma coisa antes que não repetiria agora, ótimo, você mudou, parabéns, então faça diferente desta vez. Vai lá, faz melhor. Que sentido faz se arrepender? Admita, você era pior antes, felicite-se, você poderia estar pior agora. Pegue todas as discordâncias entre o seu eu-passado e o seu eu-presente e FAÇA DIFERENTE.

Não se vá ainda, eu guardei a melhor parte para o final. O caso é que ninguém quer fazer diferente. Eu, por exemplo, tenho plena consciência da inutilidade das palavras “faça diferente” e ainda assim as escrevo em letras capitais. Talvez porque gostaria de ser utilitarista e gastar meu tempo produzindo resultados, mas eu não sou. Eu sou dispersa, distraída, um pouco mimada, e gosto de fazer as coisas sem o mais absoluto motivo. Quanto mais inútil, melhor. E assim se passa com o arrependido, ele não mudou, ele não faria diferente se pudesse, porque pode, e não faz. O arrependido gosta de imaginar ser uma pessoa melhor, mais racional, mais esperta, mais caridosa, mas não o é, nem tem intenção de sê-lo. A ilusão o faz sentir-se melhor consigo mesmo. Por isso o arrependido inventa desculpas, diz ser tarde. O arrependimento é um auto-consolo.

- Se eu pudesse voltar no tempo...

Como sabemos que voltar no tempo, em 2006, não é possível, a pessoa imediatamente está livre de assumir responsabilidade pelos seus atos. Porque afinal, ela faria diferente, certo? Errado. Mas fique tranqüilo, eu não estou aqui para estragar o seu feriado, você tem toda a liberdade do mundo para arrepender-se e enganar a si mesmo, mas faça a gentileza de fazer isso bem baixinho, sim?

Thursday, December 14, 2006

Eu disse!

E alguém ai ainda acredita que alguma coisa disso tudo aqui faz algum sentido? No, I’m NOT getting philosophical... deixo isso para outros profissionais. Nem amarga, não. Quem disse que tem que fazer sentido? E daí, se realmente começarmos a nos envolver com esta lógica do “quem disse” vamos nos encontrar nus. Por isso eu decidi começar a dizer, eu mesma, as coisas sobre as quais acredito. Sim, profeta de mim mesma.

- É possível viver qualquer coisa, e se você não escolher, alguém vai escolher por você, e esta já é uma escolha, meu bem.

- Quem disse?

- Eu.

Eu digo que não há vítimas, que não há nada que não seja metade inventado por nós mesmos. Vivemos a vida que inventamos viver para nós. E os mais imaginativos vivem as melhores vida. (Oh, não, por favor, não me diga que você é daqueles que acredita que quem tem mais dinheiro tem a melhor vida... argh! Ah, e claro, deve ser muito legal no céu... há!).

- Mas alto lá Elaine, você quer dizer com isso que eu INVENTO a dor, que eu opto por sofrer, que eu quero...

- SIM!

Claro, a pior coisa da vida é o tédio... maior causa dos suicídios. O caso é que tanta novela e romance fez a gente acreditar que sofrer é pretty funny e daí a gente vai lá e coloca um monte de drama e dor na nossa vida inventada pra ela ficar mighty cool, e sabe o que, não fica. Mas daí você já cresceu e já esqueceu que tá escrevendo esse roteiro que, ingênua, concede a autoria ao destino, ou a quem quer que seja.

Bom, não é que agora vamos nos eximir de todo sofrimento, qual é... o emprego de muita gente depende disso e, como é que alguém vai sentir o mundo mais verde e fresco ao ver o seu amor entrar se ele não for embora vez em quando. É só que quando a tristeza ficar chata, lembre-se que assim como se inventou a dor, você pode apagá-la e escrever tudo de novo.

Bom trabalho!