"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Monday, October 29, 2007

Je suis extraordinaire.

Geralmente eu espero as coisas fazerem sentido na minha cabeça para escrever sobre elas, mas há algum tempo isso não tem sido possível e por isso deixaremos essa coisa de sentido de lado, por enquanto. Cinema. Piaf, elle est extraordinaire. Eu me sinto extraordinária no auge das minhas fantasias importadas da infância onde me consolo por todo o mal, pela desconsideração, por toda a transparência que me atribuem quando não me vêem. No meio das suas notas cheias de coisas humanas, completamente cheias, abarrotadas, tem também aquela raiva, também é amarga como tudo o que se joga e cai. Como tudo o que é sempre visto através. E se defende porque é vivo. A raiva. Eu tenho pensado muito sobre isso ultimamente. Tropa de Elite. Extraordinaire. A segunda vez que eu vi o filme foi só som, sem imagem, e a voz de Wagner Moura entrando em mim carregada daquela raiva tão apaixonada. A raiva sempre me impressiona. É a vida jogada na cara, que não se esconde e nem quer. Logo me vem à mente a americana muito bem passada e dobrada dizendo com um sorriso feio no rosto que devemos nos orientar pela parte boa das coisas e assim sermos alegres e contentes. Não, esta não é toda a história. E não vai ser assim. A gente tem carne sim, e a gente sangra também e não vamos nos entregar. E a única cura para aquilo que machuca é expurgar a sujeira produzindo pus.

Saturday, October 06, 2007

Cumprir anos

A coisa com aniversários é a programação que fazem no cérebro da gente desde que a gente nasce. A mãe, ou coisa que o valha, se ocupa em fazer parecer que o mundo parou, que há homenagens, que todos celebram, que somos praticamente recém saídos do Big Brother. Mas é só ela que está lá, toda toda. E isso tudo estabelece um padrão mental. A medida em que vamos crescendo, cada sinal de continuidade do mundo, cada indício de falta de amor incondicional por parte de todos os seres existentes na face da Terra, frustra. E a imposição de ser feliz naquele momento às vezes estraga tudo. Porque a felicidade gosta é de pegar de surpresa, e os bons momentos vêm sem fazer barulho. Isso sem falar da pressão “é agora ou nunca, esta é a última vez na sua vida que você comemora xx anos”, é muita responsabilidade. E é por isso que eu gosto mesmo é dos dias comuns.