"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Thursday, September 27, 2007

Indignações

Eu estou em falta com o blog, digo, comigo mesma, pois já se passaram dois momentos de inspiração sem que eu os capturasse. Risos. Só para não deixar passar, que eu não sou disso, vou falar brevemente sobre duas indignações. A primeira diz respeito ao Fantástico e por conseqüência à Humanidade. Outro dia estava eu em frente à tevê durante o Fantástico quando eu ouço uma reportagem absurda sobre os tempos modernos que terminava com a fatídica frase: “Antes os artesãos faziam arte, agora o que as máquinas fazem é descartável”. Eu não pude acreditar, simplesmente me recuso a acreditar que ainda se repitam frases idiotas como esta. Desde que eu tinha, sei lá, 6 anos de idade eu ouvia essas coisas e, come on, quem é que ainda não percebeu a ingenuidade destas afirmações? O mundo era adolescente nos anos 70, portanto este tipo de atitude era perdoável, mas agora? Agora, não. Isso é subdesenvolvimento puro. Isso é ignorância, preguiça mental, falta de perspectiva, de entendimento das coisas. Minha vontade era entrar no ar naquele exato instante e aos berros anunciar: “Se você concorda com esta afirmação então vá agora para a cozinha moer trigo”.

Respira.

Por fim eu gostaria de comentar brevemente sobre a extensão das relações automáticas. Eu sou adepta desta modalidade em várias ocasiões, em que os nossos “como vai” e “tudo bem” são pro forma e servem para manter todos felizes na sua ilusão de troca. Entretanto, quando você decide contar sobre a sua vida para alguém, o mínimo que você espera é que a pessoa ouça. E ouvir compreende parar de pensar, receber a informação com a mente limpa, e então refletir sobre o que a informação fez sentir, pensar, e então, só então, dizer alguma coisa, ou ainda não dizer nada, porque nestes casos ouvir é tudo o que importa. Agora, o que não dá é nem acabar de dizer aquilo que se demorou tanto tempo para elaborar, com o objetivo de melhor descrever o que se passa por dentro, e já receber um “vai ficar tudo bem”, “isso é assim mesmo”, “não há de ser nada”, ou coisa que o valha como se estivéssemos a procura de soluções fáceis de livro de auto-ajuda ou respostas automáticas de URA de empresa grande.

Respira de novo.

Thursday, September 06, 2007

A não falta.

Às vezes a gente só consegue perceber a distância de alguma coisa porque aparece outra mais perto e daí você entende, porque você via antes e até sentia alguma coisa estranha, mas não entendia, não assim, conscientemente, para isso são necessários argumentos. E daí que com tudo é assim, a comparação apesar de ser questionável, já que não podemos nos apropriar de todas as variáveis, é irresistível e muitas vezes tudo o que temos para entender o que vemos e sentimos. Você acha que alguém gosta de você mas é muito tímido ou muito desajeitado para demonstrar, fica lá, se convencendo de que aquilo está bom, certo, que as desculpas a, b e c são excelentes para justificar as faltas d, e e f. Mas não é que aparece alguém do lado que consegue fazer com que as desculpas a, b e c desapareçam todas de uma vez, e então você assiste de camarote tudo aquilo que você sempre viu que não estava, mas agora conscientemente. A falta disfarçada já não pode mais se esconder. E então você sabe. "Bem que eu sentia algo estranho." Está lá, posto. A comparação pode levar a erros grotescos, pode até destruir uma vida. Dramático? Eu conheço gente que passa a vida infeliz e amargo porque o outro tem mais dinheiro, beleza, humor, sei lá eu. O que a gente esquece de olhar é que aquilo que se tem a mais, também se tem a menos. E como perceber a falta no outro daquilo que temos de sobra? Não nos chama a atenção. Só o que nos falta nos chama a atenção. A comparação é boa para a gente decidir o que quer. Eu quero aquilo lá. A não falta.