"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Wednesday, July 11, 2007

E assim era.

Eu queria alguém que só de me passar pela cabeça me enchesse o peito, e me fizesse sentir segura e não mais sozinha neste mundo. Alguém que de olhar para mim, me dissesse com os olhos, com cada traço do seu rosto, cada gesto do seu corpo, nós estamos um para o outro, eu e você. Alguém por quem eu teria gosto de fazer coisas das quais eu nunca gostei, e gosto. Eu queria alguém que ao me dar a mão me dissesse, vem comigo que eu te levo sempre, porque você é em mim e a gente é quem segue por ai. Alguém que com o olho me beijasse, que com a pele me lambesse, que com as palavras cotidianas e despretensiosas se cassasse comigo. E assim nada então iria mudar, eu continuaria a ser assim, como sou, e ele também, bem ele. Mas ele seria ele bem perto da onde eu estaria sendo eu, e seríamos um do lado do outro pela vida a fora. Porque era melhor ser ali, naquele lugar. Porque a gente queria assim. E assim era.

Monday, July 02, 2007

Nossa amiga preguiça

Será que o meu trabalho está sugando todo o meu potencial criativo e me transformando em uma escritora seca que perdeu suas palavras e agora apenas observa pela janela outras palavras, já não tão familiares, passarem lá fora desinteressadas? Claro que não, é só preguiça mesmo. Tem gente que tem vergonha de dizer que tem preguiça ou que a condena como se ela fosse, sei lá, um dos pecados capitais. Ops, e é. Tudo bem. Mas tem pecado capital que as pessoas não se importam de ter. Luxúria, por exemplo, é super cool. Cobiça é coisa de herói do capitalismo, desde que seja uma cobiça bem sucedida é ok. Mas a preguiça parece ser o pecado mais idiota, daqueles que fazem com que a gente sinta vergonha de contar que tem. É um preconceito, claro. A preguiça é o melhor dos pecados. Ela vem do tédio que é coisa de gente brilhante que não encontra nada ao redor que chegue aos seus pés, e por isso não se movem, nem respiram. Eu tenho preguiça sempre, mesmo sem ser brilhante, e gosto da minha preguiça. Ela é bem treinada, assim como a minha atenção seletiva que só vê o que bem interessa. Quando eu considero que ir é o que há de melhor a fazer, vou. Mas não vou assim, o tempo todo. Muitas vezes fico e então me deixo ficar. Uma vez me disseram que viemos para cá (nem vou entrar no mérito sobre quem veio de onde para onde por ser esta apenas uma citação bem bobinha) para descansar, por isso descanso. E que mal há nisso? Digam-me. Hoje vivemos a cultura da interferência, todos acreditam que podem e devem interferir, seja para o que for que considerarem bom. E nem sempre é bom. Bom para quem? O que houve com o bacana “live and let live”? Cada coisa é da maneira como quer ser e que seja. Se é que existe um deus-todo-poderoso-criador-do-universo, ele segue o exemplo de um chefe bastante preguiçoso e que delega todo o trabalho que há para ser feito. E quem delega confia ou não se importa. E o que mais se pode fazer, não é? É claro que dessa forma temos caos, temos injustiças, temos dores e tudo o mais. Mas isso são coisas que vem no pacote, sem o ruim não tem o bom, não é papo conformista e só preguiça mesmo. Está querendo mudar o mundo? Pode ser semana que vem?

Para o que nasce

Eu nasci para fazer parte da nobreza e ter criados ao meu redor me abanando e trazendo uvas para eu comer após a minha imersão no leite morno com pétalas de rosas. Nem sempre a gente é para o que nasce, nem sempre.