Mimo
Momento jornalístico: uma professora da melhor escola de pedagogia do país vira para os seus alunos de primeiro ano e declara: “Não acreditem que vocês poderão interferir no ensino público, isso não é possível”. Vocês prestaram bem atenção? Escola de pedagogia. Se não eles, quem então poderá interferir em algum assunto relacionado à educação?
- O governo.
Ai, brasileiro adora essa resposta, sempre “o governo, o governo”. Tá, e quem mais? E de repente me ocorre uma pergunta: para que servem os pedagogos? As pessoas não pensam mais em alguma função social ou coisa que o valha com relação às profissões que escolhem viver?
- Não. Dá pra mudar de assunto?
Daqui a pouco. Não, eu não sou uma adolescente, muito menos idealista, e não acredito que eu possa mudar o mundo no sentido de salvá-lo de todo o mal que o corrói desde que a Eva comeu aquela bendita maçã, eu até acho que o mundo ficou bem melhor depois da maça, da cobra e tudo o mais. Mas vem cá, só porque a gente (individualmente) não pode fazer tudo, isso quer dizer que não podemos fazer nada? Uau, que lógica! Sabe como chama isso? Mimo. “Ah, se você não fizer brigadeiro pra mim AGORA eu não vou querer mais”. Ainda não reparou? Mais um exemplo então. “Minha namorada não me ama, eu tenho certeza, já reparou como ela chega tarde às terças e quintas, fica lá no bar com os amigos tomando conhaque, eu não me conformo, como ela pode não dedicar todo o seu tempo livre a mim?”. Está ficando divertido inventar estes exemplos, mas voltemos, voltemos.
Gastamos tanto tempo falando das qualidades do Brasil, que tal refletir um pouco sobre as questões culturais que empacam o progresso. Eu gostaria de assistir programas e mais programas de televisão, revistas, rádios, todas as mídias que puder imaginar, só sobre o mimo brasileiro. Eu não assistiria a todos, confesso, certamente seriam bastante repetitivos e aborrecidos, mas eu gostaria que as outras pessoas assistissem enquanto eu lesse um Nelson Rodrigues e sorrisse com suas personagens mázinhas, é, só um pouquinho más, assim, quase sem perceber.