Julgamento
Nesta última semana eu participei de umas três ou quatro conversas em que foi citado o argumento "você está julgando". Eu pasmo. Pasmo e digo enfática ser bastante claro que eu estou mesmo fazendo um julgamento tamanha a obviedade da observação. Mas aqui isso parece ser incomum e até motivo de repreensão. Não julgueis, dizem. Quem pensa, julga. Imparcialidade é utopia. Não dá para ser imparcial, pelo menos não implicitamente, assim como não dá para ser duas pessoas ao mesmo tempo. Se eu tenho uma opinião sobre uma coisa, eu julgo. Tomei uma decisão? Julguei. Olhei sob determinado ponto de vista? Bingo.
O que me leva a elocubrar sobre o preconceito que reina sobre esse verbo tão inofensivo. Julgar lembra juiz que lembra condenação. O que as pessoas devem temer é a condenação. Mas quem inocenta também julga. Entretanto, ok, eu aceito, as pessoas tendem a trocar as palavras condenação por julgamento. Sendo assim, a partir de agora, estaremos falando de condenação.
Por que condenar a condenação? Porque ninguém tem direito de julgar ninguém. Mentira, o júri tem direito constitucional de julgar um suspeito infrator. E de condenar. E aplicar pena. Nós não temos o direito individualmente de condenar alguém e aplicar uma pena, o que seria uma agressão, e eu também sou contra agressões. Agora, ter opiniões sobre as coisas, achar que aquilo estava errado e que aquilo outro estava certo, sem que isso implique em se meter na vida alheia quando não chamado, o que vem a ser uma malisse indesculpável, isso sim, todos temos direito e eu diria mais, dever. Temos um cérebro, nada melhor que usá-lo, exercitá-lo, um dia tenho uma opinião, no dia seguinte ela muda, pensar é bom. Fazer julgamentos garante a sobrevivência da espécie, deixar de fazê-lo é criminoso. Interferir na vida de terceiros com base em opiniões pessoais, principalmente sem ser convidado a fazê-lo, isso sim é condenável e sempre será. Viu, acabei de fazer um julgamento com o qual você concordou. Esse pode?