"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Friday, January 30, 2009

Julgamento

Nesta última semana eu participei de umas três ou quatro conversas em que foi citado o argumento "você está julgando". Eu pasmo. Pasmo e digo enfática ser bastante claro que eu estou mesmo fazendo um julgamento tamanha a obviedade da observação. Mas aqui isso parece ser incomum e até motivo de repreensão. Não julgueis, dizem. Quem pensa, julga. Imparcialidade é utopia. Não dá para ser imparcial, pelo menos não implicitamente, assim como não dá para ser duas pessoas ao mesmo tempo. Se eu tenho uma opinião sobre uma coisa, eu julgo. Tomei uma decisão? Julguei. Olhei sob determinado ponto de vista? Bingo.

O que me leva a elocubrar sobre o preconceito que reina sobre esse verbo tão inofensivo. Julgar lembra juiz que lembra condenação. O que as pessoas devem temer é a condenação. Mas quem inocenta também julga. Entretanto, ok, eu aceito, as pessoas tendem a trocar as palavras condenação por julgamento. Sendo assim, a partir de agora, estaremos falando de condenação.

Por que condenar a condenação? Porque ninguém tem direito de julgar ninguém. Mentira, o júri tem direito constitucional de julgar um suspeito infrator. E de condenar. E aplicar pena. Nós não temos o direito individualmente de condenar alguém e aplicar uma pena, o que seria uma agressão, e eu também sou contra agressões. Agora, ter opiniões sobre as coisas, achar que aquilo estava errado e que aquilo outro estava certo, sem que isso implique em se meter na vida alheia quando não chamado, o que vem a ser uma malisse indesculpável, isso sim, todos temos direito e eu diria mais, dever. Temos um cérebro, nada melhor que usá-lo, exercitá-lo, um dia tenho uma opinião, no dia seguinte ela muda, pensar é bom. Fazer julgamentos garante a sobrevivência da espécie, deixar de fazê-lo é criminoso. Interferir na vida de terceiros com base em opiniões pessoais, principalmente sem ser convidado a fazê-lo, isso sim é condenável e sempre será. Viu, acabei de fazer um julgamento com o qual você concordou. Esse pode?

Thursday, January 29, 2009

Algumas pessoas nunca aprendem

Eu não sei identificar a voz de uma pessoa pelo telefone. Talvez após umas 5 ou 6 frases, mas quem é que troca 5 ou 6 frases com alguém que não se faz a mínima idéia de quem seja? Sou prática e pergunto logo quem é que está ligando, todos se surpreendem. Eu consigo entender a surpresa, talvez nunca tenha passado pela cabeça destas pessoas que existem seres humanos como eu que não reconhecem a mais familiar das vozes assim, de primeira, pelo telefone. O que me deixa louca é a segunda vez, e a próxima, e a próxima. Algumas pessoas nunca aprendem. Eu acho que é um problema de aceitação, elas não aceitam não serem reconhecidas, isso seria demais, as diminuiria. Ei, não é falta de amor, é só falta de audição, ok? Eu tenho uma boa dica, da próxima vez que você me ligar de um número estranho impedindo o meu aparelho de telefone de identificá-lo para mim, diga oi, sou fulano, como aliás EU sempre faço quando ligo para alguém. Não dói e evita surpresas de um e irritação do outro.

Agora a coisa não se resume a questão da identificação de voz, não. Acontece que eu tenho asma alérgica e, portanto, não posso encostar no seu cachorro. Eu sei, ele é carente, ele me quer, a falta de contato físico pode causar danos irreversíveis à sua psiquê. Porém, vamos recapitular, que parte de eu-te-nho-as-ma você não entendeu? Aceite, eu não vou encostar no seu cachorro. Mas e se ele estiver latindo e pulando desesperadamente? Não. Mas e se você não quiser mais ser meu amigo por causa disso? Também não. Portanto, não insista e principalmente, não fique surpreso toda vez que isso acontecer. Aceite, a vida é muito melhor com a aceitação de fatos imutáveis. Acredite, se existem dois fatos imutáveis da minha personalidade, estes dois seriam os tais fatos.

Saturday, January 24, 2009

I was the one worth leaving

As coisas mudam, sempre. Assim é como as coisas funcionam, em algum momento tudo vai deixar de ser o que é, ou foi, e vai passar a ser outra coisa. Não é que nada se perca em termos absolutos, é como a água que está sempre lá seja no ar ou onde for, mas uma água, aquela água, nunca mais. E a gente pode até pensar que entende isso mas não vai entender nunca, porque é assustador demais saber que o que é familiar sempre desaparece. Porque a familiaridade dá a impressão de que finalmente não estamos sozinhos.

Saturday, January 17, 2009

Over and over again

Acho que faz parte de todo amor perdido, após o auge da dor e do desespero, o esquecimento acolhedor e morno, que nos leva pra bem longe, até que acontece um gesto, uma atitude descuidada, uma palavra torta e pronto, vem a surpresa e com susto nos machucamos de novo, como se fosse a primeira vez. Seguimos neste ciclo, over and over again, cada vez com menos intensidade, até que a idéia de ser amado por aquela pessoa vá embora do corpo como um remédio que é eliminado pelos rins, ou um veneno.

A pior saudade é aquela saudade que a gente sente de alguém que não sente saudade da gente.