"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Tuesday, February 20, 2007

Eu quero mais

Tá cheio de barganha por ai, vira e mexe aparece um, ou outro, oferecendo menos, em troca de desistência e conformismo. Se aceitar, depois não venha reclamar, dizer ser pouco, culpar o mundo e ficar amargo. Aceite procurando se convencer desesperadamente que se não fosse por isso ficaria sem nada, que mais vale um pássaro que se pode tocar a dois que podem ser ilusão de uma vista cansada. Aceite com resignação, que é coisa bonita de se ver e triste de sentir.

Mas se for forte, se tiver coragem ou se faltar juízo, diga não, diga que quer mais.

- Não, obrigado. Eu quero mais.

Talvez a voz saia trêmula, com um tom sutil de incerteza, como a voz das coisas que não têm sentido, como a voz daqueles irrecuperáveis. Em seguida os olhos podem se encher de lágrimas mas não se assuste, o pior já passou, você acabou de se absolver e ainda que acabe nu, sem nada, pelo menos neste breve instante de recusa se deu o amor que muitos nunca sonharão em receber na vida. O amor dos que acreditam ser merecedores dos seus próprios sonhos.

Sunday, February 11, 2007

Assuntos Acumulados

Hoje eu estou Clarice Lispector portanto preste atenção antes que as idéias se dissolvam diante dos olhos. Eu acho mesmo que sou esponja e sempre estou aquilo que leio, é preciso tomar cuidado. Para começar eu queria falar sobre Serginho Groisman, eu gosto dele por causa de uma memória de Matéria Prima (memória adolescente é confiável?) mas hoje, vendo Altas Horas, eu achei tudo tão pobre que fiquei triste. Eu vejo boas idéias, os jovens fazem as perguntas e agora, eureka, são também os entrevistados. Mas as entrevistas são ruins, só se pergunta sobre o que se faz e o que se pretende fazer, ao bom e velho estilo de Caras. Ninguém mais se interessa pelo que pensam as pessoas? Aquilo que se faz, para viver, ou para deixar que a vida passe um pouquinho desapercebida, não deve ocupar mais tempo do que horário comercial, daqueles remunerados. A não ser que você faça arte, de vez em quando é bom falar de arte, mas nunca mais de 20% do tempo dedicado a ouvi-la, a arte é que deve falar a maior parte do tempo.

O que me leva para o segundo assunto do dia, a vida que a gente leva. É preciso ser muito forte para passar a vida dedicando-se a arte. Eu digo isso porque a vida distraída dos que possuem ocupações comuns nos proporciona o afastamento de nós mesmos necessário e suficiente para não enlouquecermos. E enlouquecem, os artistas. Uma vida simples e boa é aquela que se ocupa em grande medida com trabalho não artístico e sono. Doses modestas de arte e amor. Nada de muito tempo consigo mesmo. Deixem os questionamentos para os profissionais da área. Vai que formulamos pergunta que nos deixe sem resposta e sem sentido para prosseguir.

Por último um assunto que para mim é dos mais interessantes e que tem me perseguido por toda a minha vida. A verdade. Esta é apenas uma introdução pois ainda pretendo me estender muitíssimo sobre o tema. Vou logo avisando que não gosto da verdade. Admito que tenho a intenção de provar que ela não existe, mas antes de conseguir chegar a este ponto me contento em ser sua inimiga. A verdade sempre me assustou, desde pequena. E a mentira, tão minha amiga, tão injustiçada. Mentir é um ato de amor. Podem reparar, a verdade sempre traz uma conotação dura, áspera, seca. Há quem chame de objetividade sem se dar conta de que ser objetivo é apenas suprimir palavras e significados da subjetividade, em outras palavras, é abster-se sobre uma série de aspectos. E o que é a mentira? Talvez a minha mentira seja a minha verdade, aquela que você não vê. Acho raso quem pensa que o mentiroso se utiliza deste artifício para obter benefícios pessoais. Pois se a tal dita verdade machuca muito mais a quem ouve, então mentir passa a ser um ato de gentileza. E este texto vai acabar agora, assim, bruscamente, porque gosto de ter essas idéias brutas e mal explicadas jogadas para cima como cartas de um sorteio.

Sunday, February 04, 2007

Ser feliz

Um dia um amigo meu me disse que a gente pode ser feliz com várias pessoas. Mas eu achava que não porque gostava de me apegar a uma versão romântica e adolescente da vida, que nos coloca num mundo com bilhões de pessoas e apenas uma perfeita pra gente. Ah, claro, eu esqueci de mencionar que esta visão adolescente inclui a idéia de que tudo tem que ser perfeito senão não conta. Se a carona atrasar, se o vestido não ficar pronto, se a mala extraviar, se ela não quiser, bom, daí não dá pra ser feliz. Tem um programa na MTV que mostra exatamente isso, a infelicidade de jovens americanos debutantes, ricos e mimados. Acontece que a perfeição é chata, e o pior, se você não consegue tolerar as idílicas imperfeições do dia-a-dia, isso significa que as suas próprias imperfeições devem ter um efeito mais poderoso sobre você do que todos os monstros e fantasmas que já inventaram por ai. E pra que? Pra viver paralizado, adiando sonhos, reclamando das coisas como elas são? Bobagem, perda de tempo. O meu amigo tinha razão, a gente pode ser feliz com várias pessoas, até com a gente mesmo.