Hoje eu estou Clarice Lispector portanto preste atenção antes que as idéias se dissolvam diante dos olhos. Eu acho mesmo que sou esponja e sempre estou aquilo que leio, é preciso tomar cuidado. Para começar eu queria falar sobre Serginho Groisman, eu gosto dele por causa de uma memória de Matéria Prima (memória adolescente é confiável?) mas hoje, vendo Altas Horas, eu achei tudo tão pobre que fiquei triste. Eu vejo boas idéias, os jovens fazem as perguntas e agora, eureka, são também os entrevistados. Mas as entrevistas são ruins, só se pergunta sobre o que se faz e o que se pretende fazer, ao bom e velho estilo de Caras. Ninguém mais se interessa pelo que pensam as pessoas? Aquilo que se faz, para viver, ou para deixar que a vida passe um pouquinho desapercebida, não deve ocupar mais tempo do que horário comercial, daqueles remunerados. A não ser que você faça arte, de vez em quando é bom falar de arte, mas nunca mais de 20% do tempo dedicado a ouvi-la, a arte é que deve falar a maior parte do tempo.
O que me leva para o segundo assunto do dia, a vida que a gente leva. É preciso ser muito forte para passar a vida dedicando-se a arte. Eu digo isso porque a vida distraída dos que possuem ocupações comuns nos proporciona o afastamento de nós mesmos necessário e suficiente para não enlouquecermos. E enlouquecem, os artistas. Uma vida simples e boa é aquela que se ocupa em grande medida com trabalho não artístico e sono. Doses modestas de arte e amor. Nada de muito tempo consigo mesmo. Deixem os questionamentos para os profissionais da área. Vai que formulamos pergunta que nos deixe sem resposta e sem sentido para prosseguir.
Por último um assunto que para mim é dos mais interessantes e que tem me perseguido por toda a minha vida. A verdade. Esta é apenas uma introdução pois ainda pretendo me estender muitíssimo sobre o tema. Vou logo avisando que não gosto da verdade. Admito que tenho a intenção de provar que ela não existe, mas antes de conseguir chegar a este ponto me contento em ser sua inimiga. A verdade sempre me assustou, desde pequena. E a mentira, tão minha amiga, tão injustiçada. Mentir é um ato de amor. Podem reparar, a verdade sempre traz uma conotação dura, áspera, seca. Há quem chame de objetividade sem se dar conta de que ser objetivo é apenas suprimir palavras e significados da subjetividade, em outras palavras, é abster-se sobre uma série de aspectos. E o que é a mentira? Talvez a minha mentira seja a minha verdade, aquela que você não vê. Acho raso quem pensa que o mentiroso se utiliza deste artifício para obter benefícios pessoais. Pois se a tal dita verdade machuca muito mais a quem ouve, então mentir passa a ser um ato de gentileza. E este texto vai acabar agora, assim, bruscamente, porque gosto de ter essas idéias brutas e mal explicadas jogadas para cima como cartas de um sorteio.