Sapatos Vermelhos
É engraçado como uma referência que pode parecer boba acumula tanto significado. Eu estou falando de sapatos vermelhos. Qual não foi a minha surpresa quando encontrei um texto sobre sapatos vermelhos ao ler o blog da Huma (onde inclusive vocês podem encontrar um texto meu, traduzido para o inglês pela Pati, mui chique). Não surpreende que o blog todo seja sobre girl power. Eu já havia tomado conhecimento do símbolo ao ler “Mulheres que correm com lobos”, excelente literatura que, através dos contos de fadas e suas origens, tenta elucidar o universo feminino. Lá também aparecem os tais sapatos vermelhos que ficaram marcados na minha mente desde então. Nada mais óbvio para representar o espírito livre que nos foi suprimido no decorrer da história. E não há progresso que tenha sido suficiente. Enquanto fecharmos as pernas para sentar, enquanto nos sentirmos obrigadas a estar limpas de pêlos e odores, organizadas de cabelo e palavras, enquanto isso não estaremos livres, nunca. Pensar em sapatos vermelhos me instiga esta ousadia, me faz sentir falta da terra, mais especificamente de me lambuzar com ela. Eu já mencionei a nossa infeliz distância a tudo o que é absolutamente humano e mau, e agora me refiro à distância da mulher ao instintivo, ao gutural, ao primitivo. Não vamos nos livrar dos rótulos e conciliar nossos sentimentos se não retornarmos para lá. Mais do que isso, se não percebermos que lá está tão aqui dentro, mais do nunca.