"Truth is rarely pure, and never simple" - Oscar Wilde / "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada" - Clarice Lispector

Thursday, March 29, 2007

Partido do Demo

Alguém ai consegue me explicar como é que um partido político fundado basicamente por coronéis, que esteve no poder na época da ditadura, do qual figuras como Maluf e Pitta fizeram parte, agora tá numas de mudar de "marca" e pretende se chamar Democratas?

Ah, se alguém souber como é que faz pra ficar sabendo de um negócio desses e não morrer de ódio a ponto de ter vontade de mudar de profissão para virar mulher-bomba também pode se manifestar, faisfavô.

Lado positivo: próxima vez que alguém me disser que a publicidade não é um instrumento de enganação eu já tenho um exemplo bem contemporâneo E incontestável.

Quanto a mim, prefiro o charmoso apelido (idéia do Tas, ou Professor Tibúrcio para os íntimos) de Partido do Demo. Orna, vocês não acham?

Eu juro que tenho tentado me tornar uma pessoa razoável, que não sai matando pela rua, tenho até considerado yoga, meditação, mas toda vez que o tal do Antônio Carlos Magalhães Neto surge na tevê eu volto a estaca zero, psicopata serial.

Mas não para por ai, nossa fauna é muito diversificada, agora eu pago salário até pra Clodovil que é o maior exemplo de "quantas bobagens por segundo é possível pronunciar".

Respira, respira.

Sunday, March 25, 2007

Defesa, Jesus e afins.

Esse vai ser mais um daqueles posts de idéias embaraçadas nos fios de cabelo que saem em forma de transbordamento. Ninguém transborda sem intensidade, já aviso. Há muito venho querendo falar sobre defesa. Falar mal, é claro. Eu desconfio de tudo o que é muito defendido. Autodefesa ainda vá lá, tem um ar de honestidade bonito, de confissão. Não há quem critique a força que nos leva a preservar cegamente nossas próprias vidas. Ainda assim prefiro os que não se defendem, corro o risco de parecer ridícula mas não posso negar que vem a minha cabeça a história de Jesus, não que eu seja católica ou o considere um Deus, mas ainda assim acho bonita a idéia toda de compaixão. Seja como for, acho digníssimo optar por não se defender. Agora não há nada mais abjeto do que a defesa alheia. Há quem faça isso profissionalmente e daí, vá lá. Mas sair por ai em defesa de outrem, gratuitamente, especialmente quando esta defesa tem um fundo afetivo, me provoca reviravoltas no estômago. E eu não acho nem que eu precisaria me prolongar na explicação de motivos, mas explico, explico.

Para começar, imaginar que o outro precise de defesa já seria, no mínimo, pretensioso. Eu não critico a pretensão em quem tenha motivos para tê-la, mas lembre-se, nunca minta para melhor, não é de bom tom. Em seguida, vem a paixão, quem entra em defesa do outro em geral está tomado (muitas vezes de forma irascível) pela idéia de que um outro ser humano possa ter ofendido e até mesmo ultrajado alguém por quem se tem amor. É lindo, é lindo. Entretanto, vejam como a defesa se afasta do objeto a ser defendido, determinada idéia, imagino eu. Não há imparcialidade, não que ela exista em qualquer parte, não existe, mas nestes casos a parcialidade é grave. Além disso, a defesa só é justificada se ela não ultrapassa a agressividade da ofensa sofrida. Quem costuma se defender por ai deveria se lembrar desta regra. Se a sua defesa causou maior estrago do que a ofensa inicial, você não apenas se defendeu como iniciou outra contenda. Não é difícil perceber que este ciclo de atitudes supostamente “olho-por-olho, dente-por-dente” é responsável por grande parte das tragédias do mundo.

O caso é que é muito difícil julgar qual é a medida certa de uma defesa, e nos desapegar de nós mesmos a ponto de fazê-lo sem paixão. Por isso eu digo, não o façam. Eu ia dizer que Jesus está do nosso lado, mas tenho medo de declarações que possam ser encontradas em buscas pela Internet atraindo milhares de evangélicos, eu tenho medo dos evangélicos, é sério, com pesadelos e tudo o mais. Então eu vou dizer apenas que os ignorantes não sabem o que dizem, mas só os idiotas pensam que sabem. Para terminar eu gostaria de falar também sobre agressividade versus honestidade, acho que cabe. Para mim não há agressividade maior do que uma cara sorridente construída sobre uma montanha de mágoas. Tem muita gente por ai que acredita ser bom ator só porque consegue enganar a si mesmo quando convém. É claro que eu não vou sair por ai ofendendo pessoas, eu acredito em gentileza. Mas que fique claro que optar pela gentileza inclui ter a coragem para dizer inclusive que não gostou de alguma coisa, claro, num tom de voz agradável e por favor, sem afetações.

Thursday, March 15, 2007

Bom senso

Não é de hoje que vira e mexe sou obrigada a escutar em alguma conversa que fulano ou sicrano não tem bom senso. Daí eu sempre fico tímida em admitir que também a mim nunca entregaram esse manual, deve ter extraviado nos Correios. Além disso, coincidência ou não, eu sempre observei que as pessoas que adoram falar do bom senso alheio, ou acusar a falta dele, são justamente aquelas pessoas que acreditam conhecer a verdade. Bom, mas esta é a minha opinião e pode ser que eu tenha um senso bem ruim. Ou não tenha senso at all.

O caso é que não existe bom senso, assim, como uma entidade que pode ser evocada sempre que alguém considerar que alguém agiu mal. Primeiro porque dizer que o senso de alguém é bom ou mau já é um julgamento de valor e julgamento é sempre subjetivo. Agora, querer dizer que houve uma assembléia onde seres humanos e quem mais lhe aprouver discutiram sobre algumas regras básicas de conduta e, chegando a um consenso, escreveram um conjunto de parágrafos que resolveram apelidar de bom senso, bom, daí já é uma viagem tão alucinante que eu até chego a achar legal.

E o que é um senso bom então? É tomar uma decisão levando em consideração as suas conseqüências? É se preocupar com o outro? Consigo mesmo? Tudo ao mesmo tempo? Não cometer erros? Ai, alguém chama ai o super homem e a mulher maravilha pra mim, por favor.

Claro que existem algumas questões onde o grau de consenso é maior, como por exemplo matar alguém, a grande maioria acredita que matar alguém é uma coisa ruim. Mas em geral a coisa não é assim tão simplória. E se você não concorda com alguém não quer dizer que necessariamente aquela pessoa esteja errada, nem você.

E quer saber, eu prefiro que se aja de acordo com o que se sente. Ai, que gente reprimida. Não pode isso, não deve aquilo. Faz logo o que você está morrendo de vontade de fazer, mas tem medo porque todo mundo vai achar que você está errado. Ah, e daí. Eles também erram viu. E daí se todo mundo aceitar chamar de bom senso agir assim, eu topo ter bom senso e criticar a falta dele em todo mundo. Caso contrário, não.

O que me assusta quando alguém machuca outra pessoa não é exatamente o ato em si, mas é o fato desta pessoa não ter machucado a si mesma com isso. É, a falta de compaixão. Se bem que tem muita gente que passa uma vida machucando a si mesmo... Mas este já é outro assunto.

Wednesday, March 14, 2007

Ser bobo

Todos já viveram ao menos uma vez que seja aquele momento em que a gente acorda de um sonho sem que estivesse dormindo. É como se estivéssemos caminhando tranquilamente por um parque pela manhã num dia de sol quando de uma hora para outra alguém nos alerta, num susto, sobre a impossibilidade de prosseguir, em seguida olhamos para baixo e percebemos haver um faixa fina na altura da cintura, quase transparente, servindo de barreira, sobre a qual todos tinham conhecimento menos nós mesmos. Nós estávamos lá, serelepes, quase felizes, acreditando ser possível, quando de repente, aquele olhar duro e cínico, ou então uma palavra fria e cortante, e pronto, deixamos um pedaço da gente pra trás, morremos um pouco. Será que se não tivessem nos avisado sobre a faixa ela ainda estaria lá? Talvez nós estivéssemos mesmo enganados. Talvez vivendo uma ilusão que algum bem feitor se propôs a desfazer. Mas quem é que pode saber o que vem a ser ilusão se a própria realidade é relativa? E depois, preste atenção, estávamos quase felizes lembram-se? E agora?

Não entendo o motivo pelo qual alguém deveria deixar de acreditar em alguma coisa. A não ser que seja para passar a acreditar em outra melhor, mais grandiosa e lúdica. A falta de sonhos desproporcionais e improváveis é doença das mais graves. Vangloriam-se por saber que papai noel não existe, quem me dera não tivessem me contado. Eu quero acreditar em tudo. Quando deixo de acreditar, nestes raros e inesquecíveis momentos da vida da gente, deixo um pouco também de ser.

E há quem chame isso de esperteza, de aprendizado, pois eu quero é ser boba. Não há nada mais admirável em um ser humano do que ser bobo. Não, não estou me referindo a idiotice ou então a ignorância. Ser bobo é ser quase Deus.

Friday, March 02, 2007

Dando de ombros


Inércia Emocional

Tem gente que gosta de ficar prolongando emoções vencidas, é a tal inércia emocional. Brigou com a amiga, terminou com o namorado, e fica lá, meses depois da famigerada contenda, remoendo frases e repetindo dores. Não dá nem pra ficar perto. E não é porque é triste não, é porque é burro. Deixa de ser amor e passa a ser carência ou falta do que fazer consigo mesmo. Que você fique triste por duas semanas depois de levar aquele pé do seu namorado mais querido, justo aquele que deixava você roubar a atenção dele na hora do jogo de futebol no meio da libertadores, ainda vá lá. Mas por favor, apenas duas semanas, vale? E não adianta me chamar de fria não. Quem disse que se lamentar por um ano é prova de amor? Muito pelo contrário. Sofrer tanto tempo pela falta de alguém é sintoma incontestável de falta de amor, próprio. Claro que as pessoas são coisas muito bacanas, em geral, digo, muitas vezes, e que quando elas vão embora dá uma tristeza na gente, eu sinto muito por quem já não pode mais sofrer com coisas simples como essa. Porém, falemos de prioridades. Ninguém individualmente pode ter importância suficiente para fazer da sua vida miserável. Uma companhia é coisa boa mas existem muitas dessas por ai, e depois quem ama aceita a decisão do outro de partir. Mágoa, se sentir vítima, ódio... tudo isso é recalque. Se ficou tão ofendido com a partida de alguém é porque está tão desesperado com o vazio que tem ai dentro que já se perdeu. Quem se ama sabe que dá pra viver sem qualquer coisa nesse mundo, menos sem si mesmo.